A relação entre sono e memória é mais íntima do que inicialmente poderíamos imaginar. Isso porque a nossa capacidade de aprendizado e memorização está diretamente ligada ao que o cérebro decide “apagar” ou manter enquanto dormimos. Continue no texto para entender.
Memória
O ser humano aprende e cria memórias através da sinapse, que faz a ligação com informações que ele já tem, formando assim as lembranças de curto prazo.
E, para a consolidação desses dados, é usada uma porção do cérebro que liga as regiões da parte mais desenvolvida do órgão às associações daquela lembrança. É nesse momento que o sono entra como peça-chave no processo, isso porque dormir bem é fator fundamental para a aprendizagem e a memorização.
TER UM SONO DE QUALIDADE E COM A QUANTIDADE DE HORAS NECESSÁRIAS É PRIMORDIAL PARA A CONSOLIDAÇÃO DA MEMÓRIA E DO APRENDIZADO.
Três etapas para a consolidação da memória
Assim, a primeira etapa para a consolidação da memória passa por receber uma informação. O que varia desde a matéria do colégio ou faculdade, bem como estudos de modo geral, ou mesmo uma descoberta feita em conversa com amigos. Neste momento, é ativado o córtex pré-frontal, que desempenha um papel fundamental para a concentração e atenção. A segunda etapa passa pela ativação do hipocampo, onde são armazenadas as memórias temporárias.
(…) o hipocampo oferece um reservatório de curto prazo, ou depósito de informações temporárias, para o acúmulo de novas memórias. Infelizmente ele tem uma capacidade de armazenamento limitada, quase como um rolo de câmera, ou, para usar uma analogia mais atualizada, um pen-drive. Quando se excede essa capacidade, corre-se o risco de não conseguir acrescentar mais informações, ou, o que é igualmente ruim, de sobrescrever memórias: um acidente chamado esquecimento de interferência. (Matthew Walker no livro Por que nós dormimos)
Já a terceira etapa consiste na consolidação e armazenamento das memórias recém-formadas, função exercida pelo neocórtex. E é exatamente durante o “envio” dessas informações que o sono entra como fator fundamental para a conclusão desse processo.
A importância do sono
Assim, percebemos que a função do sono no aprendizado e memorização passa pela qualidade da vigília na primeira etapa, em que a concentração é fator fundamental, pelo armazenamento dessas informações e pelo descarte de lembranças classificadas como pouco úteis.
(…) o cérebro sempre requer a cada noite um novo turno de sono e seus variados estágios a fim de atualizar as redes de memória com base nos acontecimentos do dia anterior.
Desta forma, um dormir com qualidade (o que inclui o ciclo do sono completo) e pela quantidade de horas necessárias aumenta o foco e a capacidade de aprendizado. Isso porque a insônia ou a interrupção do sono REM e do sono profundo quebram o processo de consolidação, fazendo com que o nosso cérebro não consiga fixar as informações adquiridas.
O DESCANSO MENTAL É OUTRO FATOR FUNDAMENTAL PARA TODAS AS ETAPAS DE CONSOLIDAÇÃO DA MEMÓRIA.
Assim, não apenas a quantidade de sono, mas também o tipo e a continuidade do ciclo podem influenciar na solidificação das mais diversas formas de aprendizado. Isso porque, segundo pesquisa, a falta de sono afeta tanto a memória declarativa (ou a que envolve a repetição, como decorar uma peça ou discurso) quanto a processual (ou aquela “inconsciente”, responsável por tarefas como andar de bicicleta ou vestir uma roupa) ou mesmo a afetiva (que relaciona problemas como a depressão).
O sono não apenas mantém as memórias adquiridas antes de dormir (…), como até recupera as que pareciam ter sido perdidas logo após o aprendizado. Em outras palavras, após uma noite de sono recobramos o acesso a memórias que não podíamos recuperar antes de dormir.
Dormir é, então, um momento de ativação massiva do sistema nervoso central e sua deficiência pode ter consequências sérias a longo ou curto prazo.
Dormir: essencial para envelhecer com qualidade
Quando falamos sobre a importância do sono na consolidação da memória não é incomum que uma das primeiras dúvidas que surja em nossa mente tenha relação com o envelhecimento e alguns dos problemas comuns nessa fase da vida.
Para falar sobre a finalidade do “dormir bem” pensando especificamente na chamada “melhor idade”, precisamos destacar mais uma vez o papel fundamental da rotina. Visando o aumento do metabolismo de reparo e em uma melhor qualidade e tempo de vida, algumas escolhas são essenciais.
Praticar exercícios físicos, ter uma dieta balanceada, adotar a meditação como prática frequente e estipular uma rotina de sono são alguns exemplos de modificações extremamente benéficas quando pensamos em envelhecer com qualidade.
E, apesar de a velhice ser conhecida como uma fase da vida em que pessoas sentem que já não precisam mais dormir tanto, problemas leves como falta de atenção, e até mesmo grandes, como o Alzheimer e outras doenças degenerativas, possuem um sono regulado e de qualidade como grande inibidor.
PARA PESSOAS MAIS VELHAS, A IMPORTÂNCIA DO SONO PASSA, TAMBÉM, PELA POSSIBILIDADE DE RETARDAR DOENÇAS DEGENERATIVAS COMO O ALZHEIMER.
Sonho e memórias
Sabemos que é durante o sono que as memórias importantes são consolidadas e as consideradas inúteis são descartadas, mas elas também têm papel fundamental durante o sonho.
Leia também: Sonhar é bom? Entenda esse fenômeno.
Então, é nesse momento em que essas lembranças e informações que ficam difusas se relacionam sem que necessariamente tenham alguma ligação e têm a possibilidade de formar novas memórias ou mesmo de formular estratégias que nos possibilitem sair de situações adversas.
É durante a noite que acontece a consolidação de tudo o que aprendemos ao longo do dia e, exatamente por isso, uma das funções do sono é, então, ser, como classifica o neurologista Fabiano Moulin, o preço que pagamos por um cérebro tão adaptável.
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