O sono é conhecido por ser crucial para o aprendizado, produtividade e para formação da memória. Mas, além disso, é possível escolher memórias específicas e consolidá-las durante o sono. No entanto, os mecanismos exatos por trás disso eram desconhecidos, mas foram revelados depois de algumas pesquisas
Cientistas começaram a entender exatamente o que acontece no cérebro quando dormimos e como o estado de repouso afeta o aprendizado e a formação da memória.
Uma pesquisa publicada na NIH (National Library of Medicine), mostrou que a fase REM do sono é crucial para consolidar memórias. Também foi demonstrado que as fases do sono, ou picos repentinos na atividade cerebral oscilatória que podem ser vistos em um eletroencefalograma (EEG) durante o segundo estágio do sono não REM, são fundamentais para essa consolidação da memória.
Os cientistas também foram capazes de atingir especificamente certas memórias e reativar ou fortalecê-las usando pistas auditivas.
No entanto, o mecanismo por trás de tais conquistas permaneceu misterioso até agora. Os pesquisadores também não sabiam se tais mecanismos ajudariam na memorização de novas informações.
Portanto, uma equipe de pesquisadores começou a investigar. Scott Cairney, da Universidade de York, no Reino Unido, co-liderou a pesquisa com Bernhard Staresina, que trabalha na Universidade de Birmingham, também no Reino Unido. Suas descobertas foram publicadas na revista Current Biology.
Essa pesquisa sugere que também é possível aprender novas palavras e suas associações semânticas, a partir do zero, enquanto se está profundamente adormecido. A chave para isso parece ser que, quando alcançamos o estágio do sono profundo, as células cerebrais ficam normalmente ativas por um curto período de tempo antes de entrarem em um estado de breve inatividade. Os dois estados se alternam a cada meio segundo.
É POSSÍVEL APRENDER NOVAS PALAVRAS E SUAS ASSOCIAÇÕES SEMÂNTICAS, A PARTIR DO ZERO, ENQUANTO SE ESTÁ PROFUNDAMENTE ADORMECIDO
As chaves para consolidação de memória
Cairney explica a motivação da pesquisa, dizendo: “Temos certeza de que as memórias são reativadas no cérebro durante o sono, mas não conhecemos os processos neurais que sustentam esse fenômeno”.
“As fases do sono”, continua ele, “foram associados aos benefícios do sono para a memória em pesquisas anteriores, então queríamos investigar se essas ondas cerebrais medeiam a reativação. “Se eles suportam a reativação da memória, raciocinamos ainda que seria possível decifrar os sinais da memória durante essas fases”
Para testar suas hipóteses, Cairney e seus colegas pediram a 46 participantes que aprendessem associações entre palavras e imagens de objetos ou cenas antes de um cochilo.
Sendo assim, alguns dos participantes tiraram uma soneca de 90 minutos, enquanto outros permaneceram acordados. Para aqueles que cochilaram, metade das palavras foram repetidas durante a soneca para desencadear a reativação das memórias de imagens recém-aprendidas.
Quando os participantes acordaram após um bom período de sono, foi apresentado novamente as palavras e perguntaram se recordavam os objetos e as imagens da cena.
Foi então descoberto que a memória deles era melhor para as imagens conectadas às palavras apresentadas durante o sono, em comparação com as palavras que não eram.
QUANDO VOCÊ ESTÁ ACORDADO, VOCÊ APRENDE COISAS NOVAS, MAS QUANDO ESTÁ DORMINDO, VOCÊ AS REFINA, TORNANDO MAIS FÁCIL RECUPERÁ-LAS E APLICÁ-LAS CORRETAMENTE QUANDO VOCÊ MAIS PRECISA DELAS.
E como a memória é ativada enquanto dormimos?
Os dados da pesquisa sugerem que as fases do sono facilitam o processamento de recursos de memória relevantes durante o sono e que esse processo aumenta a consolidação da memória, sendo provado que o cérebro é mais receptivo a estímulos externos durante o sono profundo do que pensávamos.
Teorias anteriores afirmavam que, quando entramos em fases profundas do sono, certas áreas do cérebro focam na consolidação de memórias, e, portanto, ignoram estímulos externos.
No entanto, esta pesquisa publicada na revista Current Biology indica que na verdade existem pequenas janelas de oportunidade nas quais o cérebro está “aberto” e disposto a assimilar novas informações.
Cairney explica que: “Quando você está acordado, você aprende coisas novas, mas quando está dormindo, você as refina, tornando mais fácil recuperá-las e aplicá-las corretamente quando você mais precisa delas. Isso é importante para a forma como aprendemos, mas também para como podemos ajudar a manter as funções cerebrais saudáveis”.
Staresina sugere que esse conhecimento recém-adquirido pode levar a estratégias eficazes para aumentar a memória durante o sono.